Não quero mais o infinito
Desisto de quase tudo, estou enjoado
Daquilo que não cabe em mim.
Obtuso, abjeto, pontiagudo, sem nexo
Estou cansado do vasto, do complexo.
Troco a vertigem e o vício,
A confusão dos debates me enlouquece.
Abstenho-me, chega de ponderar sobre o abismo
O irreal e vertiginoso abismo adoece-me
e não toco-lhe jamais com os pés.
Adeus à caixa de brinquedos velhos
Deformados para impressionar, não suporto,
Peso da alma e enfado, velhas correntes,
Nós sem fim, borrão de tinta no imprestável.
Há um tesouro genuíno, oculto aos sábios
Há uma forma sem arestas, uma pérola
Pequena e perfeita ideia, sem conflitos
A simples verdade, inerte, modesta
Do silêncio, da calmaria, da brisa
Incapaz de hostilizar, seu poder é ser por si.
Não há o que contestar
Diante do imenso, infinito monólito
Os cegos o apalpam
Os dóceis vagueiam em sua sombra
Os tolos tropeçam
Os obstinados dão-lhe com a cara.
Todos circundam o monte
Que proclamamos ser o muro
Dado seu diâmetro
Cada ser toca-lhe uma parte
E por parecer tão enojante a ideia
De uma vida tão plena e simples
Muitos se afastam
Desejam jamais ouvir a sua voz.
Coloco-me a contemplar as minúcias
Com o carinho que é devido a tal enigma
E em cada tábua estendida
Pelos homens chamada a sua
Única, indizível
Vejo as mesmas marcas, são unas
Multiformes emanações da mesma graça.