Primeiro de outubro, véspera do Yom Kippur. Graças a Deus tive um ano muito bom. Muito doloroso também. Meu íntimo, entorpecido que estava, veio à luz como aquela menina queimada por Napalm. Gritando e correndo na direção de um socorro qualquer, sem saber que não há remédio para a tragédia. Há vida ou morte. A sensação de que valeu ter sobrevivido, de que a dor não foi em vão. A maior dor abala os alicerces do ego. Prossigo para o alvo. Prossigo menor. Muito da vaidade ficou para trás. Ainda sou o sujeito que acha que pode tudo. Ainda tenho meu sarcasmo. A alma, no entanto, ostenta uma nova marca. Minha maldade está nua e nada há que a oculte dos céus.
A vara de ferro que agitei nos ares, feriu-me. O machado que manejei com perícia e delícia, fez-me cair mais profundamente que a vítima. No toco fomos cortados e milagrosamente rompeu o broto. Mais forte? Não sei dizer. Purificado e pronto para mais uma estação. Na expectativa de uma flor que dê fruto. Na expectativa de um fruto que dê vida. Na esperança dos filhos de Yahue.
O amor de Deus em Cristo e a sagrada Torá garantem acesso a uma vida feliz, guiada por Deus. A instrução divina nos separa do mal e é a medida para o correto diagnóstico da alma. Sucot (cabanas) é a festa da alegria e da comunhão. Aponta para o reinado de Jesus na terra. Depois do arrependimento sincero alcançado em Yom Kippur, devíamos estar prontos para sentarmos juntos e celebrarmos a vida de Deus em nós. Em paz e em amor.
Temo que não deseje isto de todo coração. Porque vejo a alegria dos outros com inveja. Abriguei a inveja no meu coração. Ainda não discerni o caminho da cura. Inveja é sentimento de pessoa negligente e autoindulgente. Imagino que a cura esteja no exercício da oração. Ainda que a vontade de Deus seja perfeita, tenho a mim como deus e só faço o que desejo. O verdadeiro amor surge por breves momentos. O suficiente para termos dele uma saudade infinita. Sigo assim, carregado pelo tempo e pela misericórdia.
Apto para a vida natural. Apto para a distorção da vida. Apto para o jogo da imitação. A velha caixa passa de mão em mão, está nas bocas, perseguida por olhares curiosos. Mal sabem que por dentro, ela sou eu. Que o pintainho, precocemente privado do seu ovo, é lançado em paredes frias que refletem o mundo. O mundo entra pela janela e seu tormento é semelhante a uma colisão veloz. Que doces mãos tomarão esta vida tão frágil e a farão repousar em segurança? Onde estão o belo, o justo e o verdadeiro? Qual o nome da sua filha, meu Adon?